Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro (José Padilha, 2010)



                                                                      TRAILER:

                                                                           


Diretor: José Padilha
Roteiro: Bráulio Mantovani, José Padilha
País: Brasil

Sinopse: Nascimento enfrenta um novo inimigo: as milícias. Ao bater de frente com o sistema que domina o Rio de Janeiro, ele descobre que o problema é muito maior do que imaginava.

E não é só.

Ele precisa equilibrar o desafio de pacificar uma cidade ocupada pelo crime com as constantes preocupações com o filho adolescente. Quando o universo pessoal e o profissional de Nascimento se encontram, o resultado é explosivo.

Tropa de Elite 2, agora é pessoal.


Análise:

O filme Tropa de Elite 2 disseca de forma visceral o sistema que nós brasileiros vivemos na atualidade. Os cidadãos brasileiros se tornaram moeda de voto e indiretamente são coadjuvantes do crime organizado que governa o país, a nossa sociedade está cada vez mais inserida no contexto anti-patriótico e pseudo-democrático onde seus direitos perante o estado não mais existem, uma sociedade que é mantida incubada por um sistema midiático pérfido que forma opiniões favoráveis àqueles criminosos que os estão governando, visando manter a população longe da realidade e a favor do jogo onde o dinheiro e o poder são as únicas diretrizes, a opinião e o clamor popular é crucial neste tipo de jogo e neste sistema político dissimulatório.

José Padilha não perdoa ninguém neste filme, ele critica desde a deturpação de ideologias políticas (a famigerada direita e esquerda) a organizações filantrópicas que atuam nas favelas, o genial é que o filme levanta questões e não as respondem deixando a cargo do público decidir de forma pessoal o que é o certo e o errado de acordo com suas próprias experiências, o que ele faz é nos afrontar, mostrar que por mais que as coisas estejam escatológicas uma grande parcela da responsabilidade por chegarmos nesta situação são dos próprios brasileiros sejam eles pertencentes a qualquer classe social ou ideologia política, e que apenas nós, unidos, poderemos limpar esta sujeira.

O filme nos apresenta como funciona o crime organizado e suas posições hierárquicas na cadeia alimentar da miséria, a população carente, que é a grande maioria no Brasil, são os alvos destes criminosos que se aproveitando da situação precária em que vivem, sejam elas físicas ou intelectuais, os escravizam através de alienação midiática, violência e troca de favores. O voto é a grande arma que mantém os corruptos no poder, por isso a ''politicagem'' tem que ser bem feita e a população carente tem que estar sob controle. Alguém ai assimilou esta estratégia com algum partido político brasileiro?

Se acompanharmos, sem a intervenção tendenciosa da mídia, a situação política e social que o Brasil vive hoje vemos o quanto Tropa de Elite 2 se adéqua a dura realidade dos brasileiros, é um filme pesado, um soco na cara de nossa sociedade. O filme também funciona como um bom entretenimento com várias cenas de ação muito bem realizadas, situações inusitadas, frases de efeito recheadas com muito humor negro e várias reviravoltas, mas ele nunca se perde na sua verdadeira missão, que é apresentar o verdadeiro Brasil aos brasileiros.

O filme nos apresenta como vivem as pessoas honestas que trabalham para os órgãos públicos que são responsáveis pela a proteção do sistema, como a polícia, o preço a se pagar por ser honesto pode ser alto. Cap. Nascimento é um deles, a grande crítica dos filmes de José Padilha é o próprio personagem vivido por Wagner Moura, que por mais que ele seja honesto e combata implacavelmente a criminalidade, ele é um mero peão deste sistema, ele não sabe o porque e por quem ele mata diariamente, mas mata e cumpre muito bem seu papel.

A evolução da personagem principal é genial, se no primeiro filme ele é um soldado implacável na guerrilha urbana que segue cegamente ordens de superiores acreditando estar fazendo o correto, como ele mesmo diz ''missão dada é missão cumprida'', no segundo filme ele é obrigado a deixar o trabalho de campo e vai para detrás das cortinas, ali ele encontra a realidade e enxerga como as coisas realmente são, ele encontra os verdadeiros inimigos que são muito mais perigosos e poderosos que traficantes e vê, como ele mesmo diz no filme, que o buraco é muito mais embaixo. Marcelo Nascimento está mais velho e experiente, muito mais do que ele queria estar, e faz uma brilhante e despretensiosa dissertação provocadora para as elites, políticos, policiais corruptos, mídia e a sociedade brasileira em geral no final do filme, uma das cenas mais impactantes da história do cinema nacional. Devemos assistir a este filme e refletir na atual situação do nosso país, para onde nós estamos indo e como devemos mudar esta realidade, o Brasil precisa de nós e devemos isto a ele.

O filme é incompreendido por muitos brasileiros que emergem na obra justamente ao contrário do que o filme realmente apresenta e pelo o que ele faz pesadas críticas, como a matança indiscriminada de marginais pela a polícia, o sistema usa o BOPE para chacinar os traficantes que controlam as favelas quando eles são dispensáveis e não mais são úteis ao regime de corrupção, e também para realizar queima de arquivo visando o controle de territórios nas comunidades carentes, e faz isto de modo planejado explorando o lado guerrilheiro dos policiais honestos como o Cap Nascimento que ingressam nesta unidade e são doutrinados a receber ordens fazendo-os acreditar que isto é algo bom para a sociedade, e devido a manipulação da mídia esta apoia incondicionalmente esta chacina sistemática, como o filme nos mostra, o sistema precisa das favelas e a pobreza é algo vital para o seu progresso. Creio que foi por isso que o segundo filme não obteve tanto clamor popular quanto o primeiro, porque ele foca em questões mais complexas e expõem feridas sociais e políticas que são quase impossíveis de cicatrizar e muito mais difíceis de encarar.



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About inema e Fúria

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