O Monstro da Morgue Sinistra (John Gilling, 1960)






Direção: John Gilling                                                            
País: Inglaterra
Gênero: Horror
   
Sinopse: Robert Knox se vê obrigado a fazer acordo com dois assassinos para obter espécimes frescos e prosseguir suas pesquisas a fim de desvendar os mistérios do corpo humano.      
                             
Análise:            

Por volta dos anos 1700 à 1840 as escolas de medicina na Europa que foram o berço das evoluções científicas médicas modernas, começaram a entrar em crise devido a falta de materiais humanos para pesquisa e estudo, a cada dia mais alunos ingressavam nas escolas de medicina e lotavam as instituições e de acordo com a lei da época que restringia o número de cadáveres a apenas um por ano em cada escola, a prática acadêmica era quase impossível. Então, alguns empreendedores do submundo locais apelidados de ''ressurreicionistas'' ou pelo o nome vulgar e mais condizente com suas atividades ''ladrões de sepulturas'', começaram a aparecer por toda a parte e cada escola tinha um grupo específico com o qual fazia negócios, deixando de lado os escrúpulos, infringido a lei em favor do avanço da medicina.

Devido a este contexto, neste período aconteceu um dos casos mais bizarros da história da ciência quando os ladrões e caloteiros William Burke e William Hare enxergaram nesta situação uma mina de ouro, eles perceberam que os espécimes que os ''ressurreicionistas'' levavam às faculdades eram na maioria das vezes incapazes de serem estudados devido ao estado de putrefação dos corpos. A dupla então decidiu que era melhor levá-los frescos, quanto mais frescos os cadáveres melhor era o pagamento, desta forma eles iniciaram um jogo macabro de assassinatos onde o alvo eram todos aqueles que a sociedade da época não sentiriam falta, como os párias que lotavam a vida noturna de Edimburgo, Escócia. Para que isto fosse um crime perfeito eles precisariam de um cúmplice, alguém que compraria os cadáveres sem fazer perguntas, foi ai que eles encontraram o ambicioso professor de medicina Dr. Robert Knox, um importante cientista na evolução do estudo e das descobertas da anatomia humana.

Dr. Knox começou uma empreendedora e longa jornada com William Burke e William Hare, diz a lenda que foram mais de 100 corpos. Esta história entrou para os anais obscuros do submundo da ciência, algo que nos faz refletir em que lugar do espaço/tempo a medicina estaria se a ética a limitasse, quando estudamos mais a fundo a história não oficial da ciência médica não é difícil nos depararmos com casos sinistros como este, experimentos desumanos foram e ainda são um dos grandes responsáveis pela a evolução da medicina, o último caso notável de atrocidades cometidas em nome da ciência foram as experiências feitas com os judeus por Josef  Mengele no campo de concentração de auschwitz, que ia de tiros com balas envenenadas à mutilação de recém nascidos. Outro caso bárbaro de venda ilegal de corpos para faculdades de medicina aconteceu no Brasil na maior parte do século XX no hospício Colônia localizado na cidade mineira Barbacena, os internos desta instituição eram na maioria das vezes renegados pela sociedade e pelas próprias famílias e quando morriam da forma mais desumana possível, os funcionários derretiam os cadáveres em ácido e vendidam seus restos mortais a várias faculdades de medicina pelo o Brasil, mais de 60.000 pessoas morreram nesta intistituição e mesmo assim o caso foi arquivado pelo o estado.

Quando os assassinos em Edimburgo foram descobertos, William Hare fez um acordo com as autoridades onde ele denunciou todas as atividades macabras dele, do seu parceiro e do famoso e inescrupuloso cúmplice. William Burke foi o bode expiatório desta estória sendo condenado a morte por enforcamento em praça pública em frente a uma multidão ensandecida que delirava com a sua sentença. Dr. Robert Knox, foi absolvido das acusações e recolocado na vida acadêmica, sendo rotulado como um mártir das adversidades desencadeadas pelas descobertas científicas que andam junto com a evolução da humanidade.

Este filme inglês dirigido por John Gilling conta esta história real e macabra. Esta obra é espetacular, polêmica e provocadora do começo ao fim, desde seu roteiro minucioso à recriação da sociedade escocesa burguesa e a periférica composta pelos os pobres e os miseráveis em sua fase mais sombria e escatológica, um pouco antes do começo da era Vitoriana.

O fabuloso ator Peter Cushing vive Dr. Knox e faz um dos trabalhos mais poderosos de sua carreira enquanto os atores George Rose e Donald Pleasance interpretaram brilhantemente William Burke e William Hare, infelizmente este filme foi escrachado pela a crítica da época que o taxou como pérfido e imoral devido as várias cenas de nudez e violência, o filme também era uma afronta à sociedade burguesa da Inglaterra dos anos 1960 que era composta por sua maioria por médicos, a audácia em expor de forma romanceada e mórbida o lado vergonhoso da medicina foi a queda deste filme. O lançamento mundial deste filme quase simultâneo com uma outra obra de horror também o obscureceu, a obra-prima de Alfred Hitchcock, Psicose.

Para mim, The Flesh and the Fiends ou como é conhecido no Brasil O Monstro da Morgue Sinistra, é um dos grandes filmes ingleses do século XX e um dos mais geniais do gênero de horror, um filme que deveria sair da obscuridade e ser mais reconhecido pelo o público contemporâneo que facilmente iria abraçá-lo e reconhece-lo como uma obra-prima.


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