TRAILER:
Direção: Kleber Mendonça Filho
Roteiro: Kleber Mendonça Filho
País: Brasil
Gênero: Drama, Suspense
Sinopse: A vida numa rua de classe-média na zona sul do Recife toma um rumo inesperado após a chegada de uma milícia que oferece a paz de espírito da segurança particular. A presença desses homens traz tranqulidade para alguns, e tensão para outros, numa comunidade que parece temer muita coisa. Enquanto isso, Bia, casada e mãe de duas crianças, precisa achar uma maneira de lidar com os latidos constantes do cão de seu vizinho. Uma crônica brasileira, uma reflexão sobre história, violência e barulho.
Análise:
O filme lançado em 2012 e dirigido por Kleber Mendonça Filho retrata de forma bastante verídica e seca a sociedade brasileira, ao vermos o filme ''O Som ao Redor'' percebemos que muitas das situações do filme fazem parte de nosso cotidiano, independentemente de classes sociais, apesar do filme remeter o cotidiano de uma rua onde residem pessoas de classe média. O filme também retrata às cicatrizes da colonização européia no Recife, as suas remanescências ainda impregnadas nos chamados ''coronéis'', grandes latifundiários que tiranizam pequenos agricultores afim de tomar suas terras e aumentar seus patrimônios, ''coronéis'' estes que são descendentes de colonizadores europeus que firmaram residência no Brasil na época do império, e tinham a escravização como principal mão de obra e à violência contra os nativos a principal ferramenta de imposição de autoridade.
Apesar do filme ser bastante seco ele não tem nada de maniqueísta, não sabemos distinguir quem são os vilões e em quem podemos confiar, nos identificamos com todos os personagens, todos possuem características parecidas com a nossa, pode parecer pretensioso da minha parte dizer isso, mas duvido muito que eu esteja errado, isto acontece devido à forma com que a linguagem cinematográfica usada por Kleber Mendonça Filho disseca à natureza que remete o comum da sociedade brasileira, parece que estamos vendo um documentário e não um filme de ficção. Os atores do filme parecem que não estão atuando e sim sendo eles mesmos caso estivessem na situação dos seus personagens, somos seres comuns e medíocres que tentamos crescer todos os dias, temos muitas imposições que dificultam a nossa evolução como seres humanos, como medos, frustrações, preconceitos, angústias e conformismos. A carga dramática do filme fica com o personagem de um dos poucos atores profissionais usados por Kleber Mendonça Filho neste filme, o extraordinário Irandhir dos Santos que faz um segurança noturno que garante à ordem na rua onde se passa o filme.
O filme preza pelo o silêncio, ou seja, o nosso direito pelo o silêncio, algo que não é respeitado na atual sociedade brasileira, o silêncio mantém a paz que não encontramos no mundo contemporâneo e quando sentimos que nosso silêncio foi violado, procuramos tomar atitudes nada convencionais. O filme utiliza de forma magistral os efeitos sonoros, onde o silêncio é soberano, nos fazendo perceber os ruídos, sons que não apreciamos ou percebemos em nossas rotinas onde, às vezes, o barulho se torna algo infernal mas é algo que somos obrigados a aceitar. Vivemos numa sociedade onde as pessoas estão aprendendo que ser barulhentos é algo que vai fazer com que elas sejam reconhecidas, apreciadas e notadas e isso se torna algo importante em suas vidas, tudo isso devido à exaltação da futilidade, do efêmero e do egoísmo, que se tornou tendência em nossa sociedade, cada vez mais mecanizada.
O filme também faz uma crítica à falta de segurança no Brasil e a forma como somos feitos de reféns pela a criminalidade, algo que já é clichê nos filmes nacionais, mas aqui ela é colocada de forma bastante original e nada ficcional, pois ela mostra este problema de um ponto de vista classicista, de como somos doutrinados pela a cultura do medo à pensar que o crime sempre começa pelas classes mais baixas do que a classe em que vivemos, algo que está longe de ser verdade.
Enfim, na minha opinião este filme é dos melhores filmes nacionais lançados em décadas e tive o prazer de vê-lo no cinema, lugar onde este filme merece ser visto, que pena que hoje no Brasil, a Globo Filmes ocupa de forma tirânica todos os cinemas, não deixando chance nenhuma para que nós brasileiros vejamos algo diferente de suas novelas medíocres, ela faz com que as pessoas tratem o normal como diferente e o anormal como normal, impondo a exaltação da futilidade, uma convicção genialmente criticada por este filme.
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