Direção: John Hillcoat
Roteiro: Nick Cave
País: Austrália / Inglaterra
Gênero: Western
Elenco:
Boris Brkic (Officer Halloway)
Bryan Probets (Officer Dunn)
Danny Huston (Arthur Burns)
David Gulpilil (Jacko)
David Vallon (Jacko)
David Wenham (Eden Fletcher)
Emily Watson (Martha Stanley)
Guy Pearce (Charlie Burns)
John Hurt (Jellon Lamb)
Leah Purcell (Queenie)
Mick Roughan (Jack Bradshaw)
Noah Taylor (Brian O'Leary)
Ralph Cotterill (Dr. Bantrey)
Ray Winstone (Capitão Stanley)
Richard Wilson (VII) (Mike Burns)
Robert Morgan (Sergeant Lawrence)
Tom Budge (Samuel Stote)
Sinopse: Após um intenso tiroteio entre policiais e uma gangue de foras-da-lei, Charlie Burns (Guy Pearce) e seu irmão Mike (Richard Wilson) são capturados pelo capitão Stanley (Ray Winstone). Juntamente com seu irmão Arthur (Danny Huston), o trio é procurado por ter cometido um crime brutal. Na tentativa de pôr fim a um sangrento ciclo de violência, Stanley faz a Charlie uma proposta aparentemente impossível de ser aceita.
Análise:
Este faroeste, que teve os grandes mestres do gênero como inspiração, tem a mão criativa de Nick Cave que demonstra toda sua versatilidade como artista, o músico escreve o roteiro deste filme com uma perspicácia e percepção fílmica que deixaria muitos roteiristas profissionais com inveja, ainda mais com esta crise criativa que assola os profissionais da área nos EUA a mais de 10 anos. Ele leva o clima sombrio e a dualidade entre amor e ódio, loucura e sanidade, moral e pecado e redenção e vingança de suas canções para este filme, e com a direção concisa e bastante competente de John Hillcoat, eu tenho a ousadia de dizer, que esta é uma das obras mais interessantes e fascinantes feitas neste começo de século.
Enquanto muitos diretores usam a violência para tentar dar alguma credibilidade e uma estilizada forçada nas suas obras, neste filme, ela é posta como sendo algo inerente dos seres humanos que vivem num ambiente hostilizado pela a colonização inglesa na Austrália, na tentativa de civilizar os nativos australianos a Inglaterra levou o caos e a violência para esta terra. Os capitães que comandavam o exercito inglês tiveram que sair de suas casas na Inglaterra e residir na Austrália a mando da rainha, afim de defender os interesses da grã-bretanha e dar um fim nas revoltas dos aborígenes, que resistiam contra a tentativa dos invasores de desmantelar com sua cultura e dominar suas terras. Neste ambiente, alguns oportunistas se aproveitavam deste caos e formavam gangs para cometer crimes ocasionais e fazer trabalhos como mercenários, roubando as residencias dos oficiais ingleses ou caçando aborígenes rebeldes, numa destas invasões domiciliares, os irmãos Burns cometem um crime brutal assassinando toda uma família. Cabe agora ao oficial Stanley - Ray Winstone em mais uma atuação bastante competente - capturar esta gang e leva-los a justiça.
O capitão Stanley (Ray Winstone) consegue capturar dois dos irmão Burns, Charlie Burns (Guy Pearce) e seu irmão mais novo Mike (Richard Wilson). Ele sabe que o chefe desta gang e o mentor dos assassinatos é o irmão mais velho dos dois, o homicida Arthur (Danny Huston), que está foragido e residindo numa caverna em meio ao deserto australiano, um lugar inóspito e de difícil acesso onde até os aborígenes tem medo de ir, por dizerem ser um local protegido por espíritos selvagens e vingativos. Então ele faz uma proposta à Charlie Burns (Guy Pearce) que o colocará numa posição onde ele terá que enfrentar a si mesmo e sua família antes de poder cumpri-la.
Arthur (Danny Huston) é um assassino frio e calculista que depois de cometer várias atrocidades se transforma num eremita afim de buscar paz espiritual e respostas para sua existência violenta. O diretor John Hillcoat consegue transpor este conflito do personagem através de uma magnífica fotografia, que em meio às belas paisagens das savanas australianas procura a redenção dos seus crimes bárbaros, e tenta chegar a sua essência primordial tentando buscar na energia fundamental da natureza a paz que nunca encontrou em vida. O filme faz uma alegoria a nossa existência perante a natureza, a nossa mãe, que livre de julgamentos, nos acolhe e nos conforta, nos provem com vida, beleza e misericórdia abundantes transpondo nossa arrogância e ignorância, nos fazendo humildes de coração perante a sua magnitude.
A natureza humana é antagonista à natureza primordial e natural que nos deu a vida, nos somos moldados pelo o meio em que vivemos e dependendo do infortúnio este meio pode nos transformar em monstros, enquanto a natureza primordial e natural entende que o instinto animal pode ser imprevisível e por muitas das vezes cruel, e o perdão perante a vida é mais importante que a vingança ou o orgulho.
Enfim, este filme possui uma metalinguagem filosófica que nos leva à uma jornada ao íntimo dos personagens sem a pretensão de julgamentos, caiba a nós que estamos assistindo ao filme faze-los se tivermos esta coragem pretensiosa, já que o filme nos leva a pensar sobre a nossa natureza existencial, nos provando que o ser humano é igual em qualquer parte e a única coisa que muda é o meio em que estamos inseridos.
As atuações são bastante competentes, destaque para o genial ator inglês John Hurt, que faz uma ponta poderosa neste filme, como um culto caçador de recompensas sarcástico e alcoólatra.
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