O filme Fight Club ou como é conhecido no Brasil Clube da Luta, estreou em 1999 e depois de 15 anos, continua sendo um dos filmes mais provocativos das últimas décadas. O filme possui um conteúdo anárquico que afronta todos os valores da sociedade de consumo moderna. O filme é baseado na obra do controverso escritor Chuck Palahniuk que criou um universo escatológico e fantástico onde um messias irá salvar toda a humanidade da ilusão de capitalismo que a está afundando na própria merda, este messias é uma metáfora do que é o caos do homem moderno que não passa de um ser condicionado a viver uma vida que não é a sua para satisfazer suas necessidades que é formada a partir dos valores passados pela cultura do consumismo, e que tem neste consumo exagerado uma forma de religião onde a crença se baseia na falta de interação e sentimentos humanos, imersos nas futilidades descartáveis.
O escritor Chuck Palahniuk disse que a sua inspiração para escrever o romance foi quando ele estava num acampamento de férias e sofreu um pequeno acidente proporcionado por campistas que o espancaram quando ele foi reclamar com os mesmos por causa do barulho do som que estava muito alto. Quando ele voltou para o trabalho, ninguém o perguntou onde ele havia conseguido aquelas escoriações, então ele chegou a conclusão que esse receio era devido ao medo das pessoas em se conectarem de uma forma mais pessoal uma com as outras, elas simplesmente não se importavam com o sofrimento alheio.
O diretor que deu vida para o romance de Chuck Palahniuk no cinema foi o cineasta em ascensão David Fincher, o seu trabalho não poderia ser mais genial, ele não teve receio em mergulhar profundamente nesta estória para realizar um filme bastante verossímil ao livro que o deu origem, ele chamou o próprio Chuck Palahniuk para aconselha-lo durante as filmagens. O filme possui características bastante peculiares e subversivas que não se vê muito em blockbusters convencionais, como críticas ácidas a sociedade norte-americana, mesmo assim ele foi levado às telas por um grande estúdio que cedeu um orçamento milionário para concebe-lo. Mesmo com o medo do prejuízo considerável que levaria qualquer estúdio a falência o filme foi lançado, causando um furor que há tempos não se via na industria cinematográfica, dividindo opiniões e lucrando na sua estréia o número de $ 37.000.000 em bilheterias somente nos EUA.
As peripécias anarquistas que o personagem principal Tyler Durden vivido magistralmente por Brad Pitt (que por pouco não foi vivido por Russell Crowe) realiza para tentar desconstruir de forma ofensiva e violenta a reputação das grandes empresas que lucram com o bem estar das afortunadas famílias norte-americanas, que de acordo com o sistema, são as únicas famílias que merecem ser perfeitas devido exclusivamente ao que o dinheiro proporciona, veio a partir de histórias reais contadas por diversas pessoas que Chuck Palahniuk entrevistou. Como por exemplo inserir cenas pornográficas nos filmes da Disney durante uma sessão de cinema, urinar nas comidas dos restaurantes de luxo entre várias outras.
O filme foca na força destrutiva que a indignação dos jovens que são meros empregados dos grandes colarinhos brancos podem acarretar, quando eles tem um líder e se organizam como uma força de guerra. A indignação destes jovens vem das mentiras depois que elas se tornam cruéis realidades, a verdade de que eles nunca terão sequer a oportunidade de viverem aquilo que as propagandas e shows da TV mostram, como viver a vida de seus patrões, usar roupas pomposas, sair com super modelos e andar em carros de luxo por exemplo. A verdade de que eles são os manipulados para serem os seres humanos subalternos que lavam os pratos, estacionam os carros, servem e remediam aqueles que são os verdadeiros donos do sistema de consumo. Um sistema que os resignam criando uma ilusão de que esta maioria serviçal apenas sairá desta dura condição com muito esforço físico e mental, ganhando quase nada e com pouco tempo para se viver bem fazendo aquilo que eles realmente gostam, e que seus anseios e frustrações são frutos da falta dos produtos que de acordo com as mídias publicitárias complementam suas vidas.
Então, um jovem saído das entranhas da crueldade da sociedade consumista se destaca com suas ideologias voltadas para auto destruição e renascimento, se tornando um líder para estes jovens, um guerrilheiro, um messias que tentará levar todo o sistema econômico vigente à ruína através de ataques terroristas minuciosamente ordenados e violentamente executados.
O filme possui diversas mensagens subliminares e citações subversivas antológicas como as proferidas por Tyler Durden sobre a cultura de consumo. David Fincher de forma genial trabalhou muito bem a estrutura do espaço fílmico para que possamos ser surpreendidos pelo o poderoso clímax ao final do filme, isto faz com que algumas pessoas o vejam e revejam várias vezes tentando compreender certos aspectos de forma totalmente diferente prestando mais atenção aos vários detalhes genialmente embutidos na trama, são poucos os que conseguem assisti-lo apenas uma vez. Para mim, a compreensão da nossa sociedade atual se dá por aqueles que viram e por aqueles que ainda não viram, Clube da Luta.
Fazendo um pequeno paralelo com o momento que vivemos, nossos governantes deveriam estar satisfeitos em verem os jovens usando a máscara e as ideologias do herói Guy Fawkes do filme/livro V de Vingança em manifestações contra o sistema, porque se eles evoluírem para o Tyler Durden do filme/livro Clube da Luta, os governantes, e principalmente os donos de grandes conglomerados financeiros, terão um motivo real para temerem. Pena que a maioria dos jovens de hoje em dia tem uma mentalidade muito mais imediatista, e filmes feitos a apenas 15 anos atrás, para eles, são considerados antigos e nada tem haver com nossa atual condição.
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