Django Livre (Quentin Tarantino, 2012)


                                                             
                                                          Trailer



Direção: Quentin tarantino
Roteiro: Quentin Tarantino
Gênero: Faroeste, Comédia, Ação, Aventura, Drama
País: EUA
Elenco:

Christoph Waltz (Dr. King Schultz)
Jamie Foxx (Django)
Leonardo DiCaprio (Calvin Candie)
Samuel L. Jackson (Stephen)
Amber Tamblyn (Daughter of a Son of a Gunfighter)
Belinda Owino (Candyland House Servant)
Bruce Dern (Curtis Carrucan)
Catherine Lambert
Christopher Berry (Willard)
Cooper Huckabee (Roger Brittle)
Dana Michelle Gourrier (Cora)
Dane Rhodes (Tennessee Redfish)
Danièle Watts (Coco)
David (I) Steen (Mr. Stonesipher)
David Coennen (Mr. Wigglesworth)
Dennis Christopher (I) (Leonide Moguy)
Doc Duhame (Ellis Brittle)
Don Johnson (Spencer Gordon Bennet)
Edrick Browne (Joshua)
Elton LeBlanc (Cleo Club Patron / Polly Wolly Singer)
Erin Pickett (Woman with Rifle)
Escalante Lundy (Big Fred)
Evan Parke
Franco Nero
Gary Grubbs (Bob Gibbs)
Glen Warner (Slave Overseer)
J.D. Evermore (O.B.)
Jake Garber (Tracker Jake)
Jamal Duff (Tatum)
James Remar (Ace Speck)
James Russo (Dicky Speck)
Jarrod Bunch (Banjo)
John Jarratt (Jano)
Johnny Otto (Dr. Brown)
Jonah Hill
Jordon Michael Corbin (Samson)
Justin Hall (XIV) (Goat farmer)
Kerry Washington (Broomhilda von Shaft)
Kim Robillard (Saloon Keeper Pete)
Kimberley Drummond (Pony)
Kinetic (Franklin)
LaTeace Towns-Cuellar (Cleo)
Laura Cayouette (Lara Lee Candie-Fitzwilly)
Lewis Smith (Jinglebells Cody)
M.C. Gainey (Big John Brittle)
Michael Bacall (Smitty Bacall)
Michael Bowen (I) (Tracker Stew)
Miriam F. Glover (Betina)
Misty Upham (Minnie)
Ned Bellamy (Wilson)
Nichole Galicia (Sheba)
Omar J. Dorsey (Chicken Charlie)
Quentin Tarantino (The LeQuint Dickey Mining)
Rex Linn (Tennessee Harry)
Ritchie Montgomery (Overseer Johnny Jerome)
Robert Carradine (Tracker Lex)
Sammi Rotibi (Rodney)
Shana Stein (Plantation Owner)
Shannon Hazlett (Daughtrey Saloon Girl)
Sharon Pierre-Louis (Little Jody)
Skipper Landry (Cleo Master)
Takara Clark (Pony)
Tenaj L. Jackson (Pony)
Todd Allen (I) (Dollar Bill)
Tom Savini (Tracker Chaney)
Tom Wopat (Marshall Gill Tatum)
Walton Goggins (Billy Crash)
Zoe Bell (Tracker Peg)


Sinopse: Django é um escravo liberto que, sob a tutela de um caçador de recompensas alemão (que será vivido por Christoph Waltz) torna-se um mercenário perigoso. Depois de auxiliar seu mentor em alguns trabalhos por dinheiro, os dois partem para uma missão pessoal: encontrar e libertar a esposa de Django das garras de um fazendeiro inescrupuloso.

Análise:

O último filme de Quentin Tarantino, lançado em 2012, faz uma homenagem aos westerns spaghettis, filmes que eram feitos na Itália e pegavam carona no sucesso dos westerns estadunidenses que no começo dos anos 1960 estavam com a popularidade em queda. É impressionante como a linguagem cinematográfica de Quentin Tarantino consegue passear na trajetória do cinema autoral e do cinema tributo e ainda se manter original.

É inegável a influencia sofrida pelo os western spaghettis em toda filmografia deste que é considerado um dos mais talentosos cineastas da atualidade, principalmente os filmes de Sergio Leoni, um exemplo básico é o final do filme Cães de Aluguel de 1992 onde há a cena do duelo entre os três personagens chaves do filme, que faz uma menção ao duelo final do filme Três Homens em Conflito de 1968, mas espere, algumas pessoas dirão: Cães de Aluguel é quase uma refilmagem do filme policial de Hong Kong, City on Fire de 1987! Sim, não discordo que há semelhanças, mas o final de Cães de Aluguel, apesar de também ser parecido com o filme de Hong Kong, foi inspirada em uma cena de filmes westerns, principalmente os spaghettis.

O western spaghetti era considerado um subgênero cinematográfico até as obras-primas de Sergio Leoni, a sua trilogia dos dólares, depois disso, ele passou a ser considerado um gênero. Como em todos filmes neste formato, não havia uma preocupação em manter uma linha de filmagem seguindo regras técnicas, o experimentalismo era o único pré-requisito. Uma técnica criada e que depois se tornou obrigatória neste gênero, foram os zoons e closes exagerados em momentos de tensão, surpresa e euforia, Quentin Tarantino a usa em vários momentos em Django Livre. A violência exagerada e caricata também é uma forte característica deste gênero, algo que também foi muito bem usado e explorado por Tarantino neste filme.

Outro pré-requisito do western spaghetti eram os temas sociais e políticos, e alguns filmes remetiam à opressão e tiranização do proletariado, ou seja, pessoas que eram escravizadas ou exploradas com um salário medíocre em troca do seu trabalho braçal que ajudava a enriquecer latifundiários inescrupulosos. Quentin Tarantino teve a ideia de usar este conceito numa ferida ainda aberta com a intenção de cutucá-la e sangrá-la, questionando o lugar dos negros na construção dos EUA como o império capitalista que ele é hoje em dia, e de como este papel refletiu em sua sociedade e política contemporânea. Nós brasileiros também tivemos este passado vergonhoso, algo que também reflete até nos dias atuais, principalmente a convicção racista que nossa sociedade contemporânea ainda mantém sobre os negros.

Como no seu último filme, Bastardos Inglórios, as veracidades históricas são postas de lado e a construção de sua estória é baseada em suposições, mitos e deturbação ou perversão do que realmente aconteceu. Este filme se passa no sul dos EUA dois anos antes da guerra civil e não no norte, ou seja, este faroeste sulista pode ser chamado de ''southern'' e não de western, e os negros tomam o lugar dos índios ou dos mexicanos. As indagações de Calvin Candie (Leonardo Di Caprio) - um latifundiário dono de uma gigantesca fazenda com o nome de Candyland, conhecida pelo o terror de como administra seus escravos - onde ele usa a fenologia para explicar o porque da submissão dos negros, é fascinante, apesar de ser pura invenção da mente criativa de Quentin Tarantino. O filme também possui veracidades e não apenas invenções, como por exemplo os instrumentos, métodos e máquinas de torturas utilizados pelos capatazes nos escravos para puni-los e subjuga-los, e também a mentalidade das pessoas da época perante os negros. Outra passagem genial deste filme, é uma paródia da ku klux klan quando o grupo está à caça.

Fica claro que este filme é o mais descontraído e menos metódico de Quentin Tarantino, ele não levou 20 anos para escrever o roteiro como ele fez em Bastardos Inglórios por exemplo. Neste filme, a sua intenção principal é divertir de sua maneira, nesta premissa ele realizou um filme com cenas de ação muito bem elaboradas como também as cenas cômicas que estão bastante divertidas. Em Django Livre, Quentin Tarantino não tem a pretensão de causar surpresas não sendo previsível.

Quentin Tarantino aproveita a premissa da estória que fala sobre escravização para também homenagear os filmes blaxpoitation, que eram filmes feitos na década de 1960 e 1970, que denunciavam os preconceitos e crimes que os negros sofriam na sociedade e na política, eram filmes polêmicos que mostravam consumo de drogas explícito e violência urbana exacerbada, eram obras feitas por negros para negros que exploravam toda a sua rica cultura, estes filmes continham trilhas sonoras geniais, compostas por soul, blues e rhythm and blues. Em Django Livre, a trilha sonora é mesclada por trilhas de western spaghettis e blaxpoitation, com músicas de Enio Morricone à James Brown. Tarantino também não se preocupa em fazer uma sonoplastia mais trabalhada, ele coloca as músicas nas cenas de uma forma bem despretensiosa, como se ele as concebessem imaginando alguma trilha sonora que combinassem com elas, o resultado é incrível e as músicas realmente embalam as cenas. Esta escolha meio que ''largada'', despertou a ira do metódico maestro Ennio Morricone, que em uma declaração, disse que Django Livre é o último filme em que trabalha com Quentin Tarantino.

Como em quase todos western spaghettis o explorado, oprimido, humilhado e subjugado pelos dissimulados e cruéis latifundiários recebe a ajuda de uma pessoa que o tira da opressão e o ensina a se tornar um guerreiro rebelde à procura de vingança pela a sua humilhação e miséria. Quase sempre o mentor do oprimido, que sempre é um culto e dissimulado estrangeiro, possui segundas intenções para com o pupilo querendo tirar alguma vantagem da situação. Aqui o oprimido é Django interpretado por Jamie Foxx, que diga-se de passagem está sensacional, Will Smith foi o escolhido para o papel principal mas creio eu que ele deve ter achado o filme muito polêmico, que vai na contra mão dos filmes familiares que ele é costumado a fazer, sejam eles milionários blockbusters ou não. O mentor de Django é o Dr. King Schultz magistralmente interpretado por Christoph Waltz, aqui o mentor realmente quer ajudar Django... depois de explora-lo bastante, lógico! Tarantino constrói uma estória de amor que amolece o coração do caçador de recompensas alemão, que o faz lembrar de um popular mito de seu amado país, o mito da Broomhilda e do seu corajoso salvador e amante Siegfried, então ele deixa suas intenções capitalistas de lado e resolve ajudar Django nesta empreitada romântica.

O latifundiário inescrupuloso é interpretado por Leonardo Di Caprio, que está perfeito no papel, ele ajudou a dar uma personalidade canalha, sádica e psicótica para o personagem, um dos melhores já criados por Tarantino. Destaque também para Samuel L. Jackson como o cômico e assustador escravo racista que administra a sede da fazenda de Calvin Candie (Lenardo Di Caprio), e também para a pequena participação de Franco Nero, o ícone dos western spaghettis, que interpretou Django no clássico de 1966.

Alguns dizem que Tarantino demonstra neste filme que cresceu, amadureceu e ficou velho, eu não vejo por este angulo, para mim, o cineasta mostra neste filme que ainda está com disposição e coragem para se recriar e se reinventar, experimentando novas experiencias se aventurando em outras terras. Quentin Tarantino tenta em todo seu trabalho, resgatar filmes geniais que caíram no ostracismo os trazendo novamente a tona, filmes estes considerados o lixo da cultura pop por críticos que se dizem cinéfilos ou cinéfilos que se dizem críticos, estes filmes merecem ter um representante de peso como Quentin Tarantino e esta característica entre várias outras de sua filmografia, merece respeito e admiração.


Quentin Tarantino fez uma lista para o site The Spaghetti Western Database dos seus 20 westerns spaghettis favoritos, estes filmes extraordinários serviram como inspiração para a criação de Django Livre, segue a lista:


1- THE GOOD, THE BAD AND THE UGLY, Sergio Leone (1966)

2- FOR A FEW DOLLARS MORE, Sergio Leone (1965)

3- DJANGO, Sergio Corbucci (1966)

4- THE MERCENARY, Sergio Corbucci (1968)

5- ONCE UPON A TIME IN THE WEST, Sergio Leone (1968)

6- A FISTFUL OF DOLLARS, Sergio Leone (1964)

7- DAY OF ANGER, Tonino Valerii (1967)

8- DEATH RIDES A HORSE, Giulio Petroni (1967)

9- NAVAJO JOE, Sergio Corbucci (1966)

10- THE RETURN OF RINGO, Duccio Tessari (1965)

11- THE BIG GUNDOWN, Sergio Sollima (1966)

12- A PISTOL FOR RINGO, Duccio Tessari (1965)

13- THE DIRTY OUTLAWS, Franco Rossetti (1967)

14- THE GREAT SILENCE, Sergio Corbucci (1968)

15- THE GRAND DUEL, Giancarlo Santi (1972)

16- SHOOT THE LIVING, PRAY FOR THE DEAD, Giuseppe Vari (1971)

17- TEPEPA, Giulio Petroni (1968)

18- THE UGLY ONES, Eugenio Martin (1966)

19- VIVA DJANGO!, Ferdinando Baldi (1967)

20- MACHINE GUN KILLERS, Paolo Bianchini (1968)

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